Ramon Alvarado participou ativamente do ciclo de Cinema Amador do Espírito Santo nos anos 1960, período no
qual a produção cultural e artística no estado, assim como acontecia em todo o Brasil, se opunha à
ditadura militar e tencionava representar, de forma narrativa e estética, os questionamentos e angústias
de uma geração marcada pelo contexto repressor. Em 1966, Alvarado realizou Indecisão,
possivelmente o primeiro curta-metragem de ficção filmado em Vitória. Infelizmente esta é uma das suas
obras consideradas desaparecidas. Neste período, dirigiu ainda Cristo e o Cristo (1966),
Cirurgia do Coração no Espírito Santo (1967) e O Pêndulo (1967); foi ainda diretor de
fotografia dos curtas-metragens Palladium (Luiz Eduardo Lages, 1966), A Queda (Paulo
Torre, 1966), Kaput (Paulo Torre, 1967), Alto a la Agresión (Antonio Carlos Neves, 1967)
e Veia Partida (Antonio Carlos Neves, 1968), vencedor do prêmio de Melhor Fotografia no IV
Festival de Cinema Amador JB/Mesbla, realizado no Rio de Janeiro em 1968. Por suas contribuições, Ramon
Alvarado foi homenageado no I Festival de Cinema Amador Capixaba, realizado em Vitória no ano de 1967 por
iniciativa do ator Milson Henriques.
A partir do início da década de 70, ao passo que desenvolvia sua carreira como técnico de cinema,
sobretudo no departamento de fotografia de longas-metragens e filmes institucionais, Alvarado deu
continuidade ao seu percurso como realizador. No campo do documentário, ocupou-se da cultura popular, das
tradições e do patrimônio brasileiro, a partir de uma linguagem cinematográfica definida pela presença do
registro em tom crítico, marcado por reflexões sociais, políticas e históricas. Obras como Floresta da
Tijuca (1980), Brincadeira dos Velhos Tempos? (1977) e Almas (1980), realizadas
no Rio de Janeiro, destacam-se nesse período. No Espírito Santo, Ramon Alvarado voltou-se para as
paisagens e manifestações culturais tradicionais do estado, tematizadas em filmes como o já mencionado
O Cristo e o Cristo (1966), documentário sobre a Festa da Penha no Espírito Santo; o curta Os
Votos de Frei Palácios (1980), sobre a vida do religioso fundador do Convento da Penha, em Vila
Velha; e ainda O Mastro do Bino Santo (1971), documentário que acompanha a festa da puxada e
fincada do mastro de São Benedito, realizada anualmente no município de Serra.
A pesquisa realizada no âmbito do projeto envolveu o contato com diversos profissionais e instituições a
nível estadual, nacional e internacional a fim de localizar materiais relacionados à obra de Ramon
Alvarado, sobretudo cópias e negativos de seus filmes. Ainda, buscamos materiais conexos, tais como
fotografias, textos e documentos de produção, os quais auxiliassem na contextualização de sua carreira e
de sua trajetória como cineasta. Além dos materiais conexos digitalizados e das novas cópias digitais dos
filmes, a partir da etapa de pesquisa elaboramos a filmografia completa do cineasta, disponível no site.
A constatação de que cópias em 16mm dos filmes Cirurgia do Coração no Espírito Santo (1967) e
O Mastro do Bino Santo (1971), preservadas pelo próprio cineasta, poderiam ser os únicos
materiais destes dois filmes foi determinante para o desenvolvimento do projeto. Exibido no X Festival de
Brasília, em 1973, Mastro tem grande importância histórica ao retratar uma das mais importantes
festas populares do estado num contexto de mudanças sócio-econômicas e estruturais da região onde ela é
realizada. O congo, ritmo tipicamente capixaba, compõe a trilha sonora do curta-metragem. Nas imagens, os
registros de importantes mestres de congo do estado e das pessoas em procissão, cantando e dançando
durante a festividade, se misturam a imagens dos trabalhadores envolvidos nas obras de urbanização e
expansão da cidade, como a construção do complexo siderúrgico no Porto de Tubarão e da BR 101, rodovia que
corta o município.
Além de O Mastro do Bino Santo, foram produzidas novas cópias de Cirurgia do Coração no
Espírito Santo (1967), escaneado a partir do único material existente, preservado pelo diretor;
Floresta da Tijuca (1980) e A Escola Nova (1975), digitalizados a partir dos respectivos
negativos de imagem depositados na Cinemateca do MAM (RJ); e O Espaço da Liberdade - Vilma Nöel
(1987), cujo negativo de imagem foi preservado pelo cineasta. Os documentários Brincadeira dos
Velhos Tempos? (1977) e Almas (1980) foram digitalizados a partir de fitas betacam
identificadas pelas pesquisas do projeto, diante da não localização de seus negativos originais. Todos os
filmes aqui apresentados estiveram parcialmente fora de circulação ao longo das últimas décadas, estando
seu contato com o público restrito, durante esse tempo, a cópias em baixa qualidade disponibilizadas pela
Internet e em DVDs graças aos esforços do próprio diretor, a registros documentais de suas exibições ou
tão somente à memória daqueles(as) que puderam um dia os assistir. Nós do projeto Acervo Capixaba
esperamos que a difusão dessas obras, bem como sua contextualização histórica e crítica, ofereça material
para que pesquisadores(as), cineastas e o público em geral conheçam o trabalho deste importante realizador
do cinema capixaba, cuja prolífica carreira se estende por mais de cinco décadas e cujas obras não cessam
de impressionar, ainda hoje, por sua pertinência e relevância.